Lançamento - "O Segredo do Labirinto" sobre Arthur Bispo do Rosário reflete relação entre loucura e arte
Aos 28 anos de idade, depois de uma visão de Cristo descendo, com sete anjos, no quintal de sua casa, ele vagou pelas ruas cariocas até ser preso e internado. Algumas semanas mais tarde, diagnosticado como esquizofrênico paranoide, foi transferido para a Colônia Manicomial Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde permaneceu internado por 50 anos, em grande parte confinado a uma solitária. Negro, pobre e enclausurado, Arthur Bispo do Rosário ressignificou sua condenação ao isolamento e à inexistência através de uma jornada épica pelo universo da arte, tornando-se um dos mais singulares representantes da cultura contemporânea.
O artista plástico capixaba Orlando da Rosa Faria, após anos de pesquisa e estudos, lançará, no dia 17 de outubro, a partir das 19h, o livro “O Segredo do Labirinto”, uma leitura sobre a obra de Arthur Bispo do Rosário. O lançamento aberto ao público acontecerá na sede do Instituto Marlin Azul, instituição responsável pela iniciativa, organização e produção do livro.
Ex-marinheiro e pugilista, Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, no interior de Sergipe, em data incerta (entre 1909 e 1911). Foi para o Rio de Janeiro, nos anos 20, se alistou na Marinha de Guerra, onde permaneceu por nove anos. Não pintava nem esculpia. Criava assemblagens (montagens) a partir de objetos usados e descartados pelo consumo no cotidiano da colônia onde estava internado, como calçados, roupas, canecas de alumínio, vassouras, caixas, garrafas, arames, plásticos, jornais, cadeiras, papéis, talheres, pentes, pedras, moedas, dentre outros. Criou uma série de bordados feitos sobre lençóis usados com a linha obtida através do desmanche dos uniformes dos internos da instituição. No decorrer de anos, bordou milhares de palavras que designavam nomes próprios organizados em ordem alfabética. Desenhou mapas, narrou acontecimentos da sua vida dentro e fora da instituição psiquiátrica. Morreu em 05 de julho de 1989, no Rio de Janeiro.
Seu legado é composto por cerca de 1.000 peças entre bordados, estandartes, assemblagens, roupas, arquivos e anotações. Em 1982 permitiu a saída de parte de suas peças para integrar a exposição coletiva “Margem da Vida” no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. A partir daí, seu trabalho percorreu diversas cidades brasileiras e importantes centros internacionais, culminando, em 1995, com a exposição na Bienal de Veneza, onde se destacou como representante oficial da arte brasileira.
“A obra de Arthur Bispo do Rosário nasce em reação à ameaça desintegradora da loucura e ao caráter asfixiante, paralisador e homogeneizante, representado pela instituição manicomial, onde passou a maior parte de sua vida. Assim, a criação no contexto da vida asilar, torna-se uma forma de administrar a loucura, e dar sentido positivo a uma vida que estaria fadada a um existir miserável, marcada tão somente pela dor e o sofrimento. Seu trabalho, então, assume-se como um instrumento de ressurreição entre os destroços da loucura”, descreve em seu livro, Orlando da Rosa Faria.
Segundo o autor, Bispo, embora não tenha tido contato com os criadores e espaços de criação formais tradicionais, por conta de sua condição de enclausuramento, canalizou as inquietações da arte contemporânea e construiu sua obra através deste processo de autorreconhecimento e de uma jornada heroica em busca de si mesmo, usando como inspiração suas visões, vivências e sonhos.
Com 104 páginas, apresentação do professor de Arte Contemporânea da Ufes Waldir Barreto e prefácio da poeta, filósofa e psicanalista Viviane Mosé, o livro foi editado pela Appris com o texto e imagens da dissertação de mestrado apresentada pelo autor na PUC-RJ em 1996. “O Segredo do Labirinto” parte do interesse plástico-formal, ressalta a importância da arte no contexto das instituições psiquiátricas como instrumento de reabilitação da individualidade, porém, analisa a obra de Bispo no contexto mais amplo sobre a criação artística, não restringindo-a aos aspectos terapêuticos do fazer artístico nem às especulações do interesse psicanalítico.
Sobre o autor
Com tempo e espaço criativos divididos entre Brasil e Portugal, Orlando Faria, Lando, foi também Professor da Universidade Federal do Espírito Santo por 25 anos. É Mestre em História Social da Cultura pela PUC-RIO e Doutor pela Universidade de Lisboa. Desde os anos 1980, produz uma obra vasta, significativa e variada, que vai da pintura ao vídeo, da fotografia à instalação e à escultura. Fez exposições nas cidades de Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Santiago, Berkeley CA. Cardiff, Berlim, Paris, Florença, Lods, Cuenca, Lisboa entre outras.
Saiba mais sobre o Instituto Marlin Azul
O Instituto Marlin Azul é uma associação sem fins lucrativos criada em 1999 cuja finalidade é promover ações direcionadas à cultura, à arte e à educação, democratizando o acesso à produção e fruição de bens culturais. Em 26 anos de atividades, a instituição vem desenvolvendo, a partir de ações de formação, produção, difusão e inclusão audiovisuais, diversos projetos culturais, ambientais, de preservação e valorização da memória e das tradições populares, voltados para diferentes públicos do Espírito Santo e do Brasil. A entidade desenvolve os projetos Revelando os Brasis, Projeto Animação, Cine Animazul, Curta Vitória a Minas, Cine Quilombola, Cinema de Griô, Griôs de Goiabeiras, Memória do Barro e Som na Sexta. Para conhecer, acesse institutomarlinazul.org.br.
SERVIÇO
Lançamento aberto à comunidade do livro “O Segredo do Labirinto”, de Orlando da Rosa Faria (uma leitura da obra de Arthur Bispo do Rosário)
Dia: 17/10/25
Horário: a partir das 19h
Local: Instituto Marlin Azul
Endereço: Rua Oscar Rodrigues de Oliveira, nº 570, Jardim da Penha – Vitória (ES) - CEP: 29.060-720 (Instituto Marlin Azul)
Mais informações
Instituto Marlin Azul
Telefone: (27) 3327-5009 | (27) 99872-3521
E-mail: instituto@imazul.org
Site IMA: www.institutomarlinazul.org.br
Redes sociais: @institutomarlinazul

Postar um comentário