BRASIL

Número de fábricas clandestinas de cigarros triplica no Brasil em quatro anos



Criminosos migram do contrabando para a produção interna, que já movimenta R$ 4 bilhões por ano. Casos recentes no Rio e em SP reforçam avanço da prática ilegal


Duas operações policiais realizadas nesta terça-feira (15) em Caxias, no Rio de Janeiro e em Ourinhos, interior de São Paulo voltaram a expor a face cada vez mais complexa e lucrativa do mercado ilegal de cigarros no Brasil. Ao menos 17 paraguaios foram resgatados em condições análogas à escravidão, após serem aliciados para trabalhar em fábricas clandestinas operadas por organizações criminosas.
 
 

As ações reforçam uma tendência em curso: o número de fábricas ilegais de cigarros triplicou no país em quatro anos, saltando de três (2020) para nove (2024), refletindo uma mudança de estratégia do crime organizado - que tem diminuído o contrabando nas fronteiras para investir na produção ilegal local em larga escala.
 
 

O crescimento desse modelo de operação é acelerado. Só no primeiro semestre de 2025, sete fábricas clandestinas já foram desmanteladas. Dados do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade – FNCP, apontam que, entre 2021 e 2025, foram 39 fechamentos – número que supera o total registrado ao longo de toda a década anterior (2007 a 2020), quando foram identificadas 36 unidades ilegais.


 

 

Para o presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), Edson Vismona, a mudança de rota do crime é um sinal de alerta. “O crime organizado está se estruturando como uma verdadeira indústria criminosa dentro do Brasil. O que antes era contrabando, hoje é produção nacional em larga escala, com falsificação de marcas, trabalho análogo à escravidão e enormes prejuízos à arrecadação. Essa atividade financia outras práticas ilícitas e mina a capacidade do Estado de reagir.”


 

Do contrabando à indústria paralela

Tradicionalmente abastecido por cigarros contrabandeados do Paraguai, o mercado ilegal brasileiro agora opera uma espécie de indústria paralela, a serviço da máfia do cigarro. Produzir em território nacional reduz riscos logísticos, evita apreensões nas fronteiras e amplia os lucros. Com estrutura profissional, estima-se que esse modelo criminoso movimenta cerca de R$ 4 bilhões por ano, livre de impostos, fiscalização sanitária e encargos trabalhistas.


 

E ainda: as fábricas clandestinas, antes focadas apenas em copiar marcas paraguaias já consolidadas no Brasil, agora também falsificam marcas legais brasileiras, com embalagens e selos quase idênticos aos originais. Nas últimas duas fábricas estouradas no Rio de Janeiro este ano, por exemplo, tinham produção de cigarros falsificados de marcas legais nacionais.
 
 

Sudeste concentra operações, mas atividade avança no país

A maior parte das fábricas clandestinas desmanteladas nos últimos anos estava localizada na região Sudeste. São Paulo lidera nos registros com mais de 25 fechamentos entre 2012 e 2025, impulsionado pela proximidade dos grandes centros consumidores e estrutura logística favorável. Em seguida aparecem Rio de Janeiro e Minas Gerais.


 

Para Edson Vismona, mais do que os impactos econômicos, o avanço desse mercado ilegal revela violações graves de direitos humanos, como nos casos desta semana, onde trabalhadores estrangeiros foram mantidos em situação de exploração e cárcere privado – um modus operandi recorrente nesses esquemas criminosos.

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