Criminosos migram do contrabando para a produção interna, que já movimenta R$ 4 bilhões por ano. Casos recentes no Rio e em SP reforçam avanço da prática ilegal
O crescimento desse modelo de operação é acelerado. Só no primeiro semestre de 2025, sete fábricas clandestinas já foram desmanteladas. Dados do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade – FNCP, apontam que, entre 2021 e 2025, foram 39 fechamentos – número que supera o total registrado ao longo de toda a década anterior (2007 a 2020), quando foram identificadas 36 unidades ilegais.
Para o presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), Edson Vismona, a mudança de rota do crime é um sinal de alerta. “O crime organizado está se estruturando como uma verdadeira indústria criminosa dentro do Brasil. O que antes era contrabando, hoje é produção nacional em larga escala, com falsificação de marcas, trabalho análogo à escravidão e enormes prejuízos à arrecadação. Essa atividade financia outras práticas ilícitas e mina a capacidade do Estado de reagir.”
Do contrabando à indústria paralela
Tradicionalmente abastecido por cigarros contrabandeados do Paraguai, o mercado ilegal brasileiro agora opera uma espécie de indústria paralela, a serviço da máfia do cigarro. Produzir em território nacional reduz riscos logísticos, evita apreensões nas fronteiras e amplia os lucros. Com estrutura profissional, estima-se que esse modelo criminoso movimenta cerca de R$ 4 bilhões por ano, livre de impostos, fiscalização sanitária e encargos trabalhistas.
Sudeste concentra operações, mas atividade avança no país
A maior parte das fábricas clandestinas desmanteladas nos últimos anos estava localizada na região Sudeste. São Paulo lidera nos registros com mais de 25 fechamentos entre 2012 e 2025, impulsionado pela proximidade dos grandes centros consumidores e estrutura logística favorável. Em seguida aparecem Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Para Edson Vismona, mais do que os impactos econômicos, o avanço desse mercado ilegal revela violações graves de direitos humanos, como nos casos desta semana, onde trabalhadores estrangeiros foram mantidos em situação de exploração e cárcere privado – um modus operandi recorrente nesses esquemas criminosos.

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