Se
lançarmos essa lupa, por exemplo regionalmente, e enfocarmos a região de
Rondônia, temos uma das partes do Brasil em que o agronegócio mais expressa sua
face complexa. Somos o 2º maior em produção agropecuária da região Norte e 11º
do Brasil movimentando mais de R$ 20 bilhões, com destaque à exportação de
café, soja e também de carne. Mas há alguns desafios para que o desenvolvimento
se estabeleça.
O
primeiro grande desafio está na área ambiental e na região de Rondônia se chama
regularização fundiária. Mesmo que a região abrigue os maiores projetos de
colonização e assentamento executados pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), suas principais etapas, incluindo a documentação,
funcionaram muito bem até meados da década de 1980. De lá para cá, diversos
projetos não foram documentados pela administração pública federal em Rondônia.
Alguns desses projetos têm mais de 30 anos e compreendem mais de 70 mil
propriedades rurais, sendo que, desses, 95% têm até quatro módulos (pequenas
propriedades).
E quais
os efeitos dessa realidade? As famílias de produtores nessa situação, estão
praticamente fora do mercado formal, sem o alcance a linhas de créditos para o
desenvolvimento de projetos agrícolas a juros mais atraentes concedidas por
bancos públicos e privados. Também falta a elas o acesso à maquinários e
tecnologia e também sofrem com a falta de recursos para recuperação de áreas
degradadas, com a exigência ainda de cuidar de reservas de matas.
Diante
disso, se estabelece um gargalo que cabe aos entes públicos resolverem. Sabemos
que o mais difícil já foi feito pelo Incra, que entregou as áreas devidamente
demarcadas e individualizadas. Nessa direção, considerando que o Cadastro
Ambiental Rural (CAR) e o Georreferenciamento já são ferramentas bem
conhecidas, o que falta agora é um convênio entre União e o Estado para
instituir a “autodeclaração de propriedade” pelo próprio produtor e, após
verificação de técnicos contratados para esse fim, emitir a documentação.
Entendemos que agir nesse sentido facilitaria a vida de todos os envolvidos e
do governo para fiscalizar a regularidade ambiental.
Por sua
vez, no cenário atual, temos ainda a tramitação do Projeto de Lei que pode
impedir que quem tem pendências ambientais não possa acessar financiamentos. No
nosso entender, o PL é ineficaz, pois o embargo de áreas já impede o produtor
de acesso ao mercado. Em Rondônia, o governo exige dos proprietários rurais que
mantenham reservas em mata preservada ou restaurada em até 80% das áreas
privadas, inclusas as áreas de proteção permanente (APP) (matas ciliares de
rios, córregos e igarapés), sem incentivar o produtor a entender que pode ter
retorno ao cuidar das suas reservas. Entendemos que, para o produtor, as suas
terras são o seu negócio e a reserva é uma espécie de área improdutiva, um
confisco, já que não pode explorar adequadamente.
O
indicado seria inverter essa lógica, com o governo criando mecanismos concretos
de forma a estimular uma cultura de que vale a pena preservar, cuidar das
reservas e do meio ambiente. Penalidades, proibições e confiscos devem
acontecer após essas iniciativas serem efetivamente colocadas em execução e de
ampla informação pública. Esse “PL do impedimento” proposto está na contramão
dos anseios dos produtores, porque, antes de penalizar, se deve pensar em
mecanismos que mudem mentalidades e eduquem mesmo.
Diante desses dois pontos que levantamos, é necessário lembrar que as regras para a correta utilização do solo rural e as exigências já estão na Lei. Pela maturidade e dimensão do agronegócio brasileiro, por outro lado, não há mais tempo para fazer negócios por mera intuição. O empresário do agro, antes de qualquer empreendimento ou intervenção, deve procurar suporte técnico de diferentes áreas para seus planejamentos e execuções. Um plano claro afasta problemas na sua operação e é garantia de bons resultados. Por isso, foco nas questões relevantes e profissionalismo são mais do que necessários para avançarmos e superarmos os desafios.
*Ivan Machiavelli é advogado sócio-fundador do Machiavelli, Bonfá e Totino Advogados Associados, pós-graduado em Direito Processual Civil.
Sobre o
MBT Advogados Associados – Com o início da história em 1985, através de um dos
advogados pioneiros em Rondônia, Ivan Machiavelli, o escritório é especialista
em casos relacionados ao direito do agronegócio, direito cooperativo e
recuperação judicial e falência. Tem como sócios fundadores Ivan Machiavelli,
Deolamara Bonfá e Rodrigo Totino, que contam com o apoio de mais 20 de
profissionais que são referência de profissionalismo no Estado de
Rondônia.

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