COLUNA Adriano Lima Neves

SANTA LEOPOLDINA E SEUS PERSONAGENS SYLVINHA MELLO, A BONEQUINHA DO RÁDIO

A história de vida da cantora Sylvinha Mello, a bonequinha do rádio, apesar da fama nacional e internacional que obteve nos anos 1930 e 1940, é pouco conhecida dos capixabas; e em Santa Leopoldina ela é praticamente uma desconhecida. Mas, a partir de agora quero dividir com o leitor de O Leopoldinense algumas informações sobre essa importante personagem da música popular brasileira, que tem uma grande ligação com a nossa cidade.

Embora alguns registros nos façam supor que Sylvinha Mello seja leopoldinense, uma pesquisa mais aprofundada revela que na realidade ela nasceu em Vitória, mais precisamente no dia 23 de fevereiro de 1914.

Mas podemos considerá-la leopoldinense, uma vez que a sua família era estabelecida na nossa cidade e ela apenas foi nascer na capital, em função de sua mãe, pertencente a uma família de posses, ter decidido ser melhor assistida no parto em Vitória. Sylvinha Mello era filha do Dr. Paulo Júlio de Mello e de dona Florisbela de Araújo Melo e teve outros três irmãos: Alfredo, Conceição e Aulizia que, ao que tudo indica, são leopoldinenses.

O seu pai era um advogado pernambucano estabelecido em Santa Leopoldina, onde foi Presidente do Governo Municipal, o equivalente hoje a Prefeito, e alternou-se na Presidência da Câmara Municipal entre 23 de maio de 1908 e 23 de maio de 1916, além de ter sido o primeiro Deputado Federal leopoldinense da história.

Os avós maternos de Sylvinha Mello eram o coronel Antônio José de Araújo Silva e dona Angelina Postay de Araújo, pessoas de muita influência política e, na época, donos de uma grande fazenda na região entre Mangaraí e Tirol. O coronel Antônio José de Araújo Silva era de uma família produtora de açúcar e veio de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, para se estabelecer em Santa Leopoldina, onde também foi um político de destaque. Ele fez parte da primeira Câmara de Vereadores da cidade, constituída em 1887, ano da emancipação de Santa Leopoldina. Estabelecido aqui como fazendeiro, casou-se com uma moça italiana, Angelina Postay, que ainda tem descendentes em Santa Leopoldina, sendo alguns deles o amigo Renato Serrano e seus irmãos. O Coronel Araújo Silva também foi proprietário, juntamente com o genro Dr. Paulo Julio de Mello, de um jornal e uma gráfica em nossa cidade, que funcionaram no pavimento térreo do atual imóvel da família Leppaus, o Café e Cama Dona Zezé, na esquina da ponte Paulo Antônio Médice com a avenida principal da cidade, que inclusive, já se chamou avenida Dr. Paulo Júlio de Mello.

A família da cantora Sylvinha Mello mudou-se para o Rio de Janeiro, a capital do Brasil na época, quando ela tinha apenas 09 anos de idade, em função das atividades políticas de seu pai, já no cargo de Deputado Federal.
Essa grande cantora que mais tarde ficaria conhecida como a “bonequinha do rádio”, estreou na carreira artística cantando peças folclóricas em teatros e cassinos do Rio de Janeiro, além de São Paulo e outras capitais, sempre ao lado de Hekel Tavares. Aos 18 anos apresentou-se no Programa César Ladeira, passando a atuar ao lado de Francisco Alves, Carmen Miranda e Sílvio Caldas. Entre 1930 e 1936, realizou gravações para a RCA Victor, destacando-se entre seus primeiros sucessos “O Pequeno Vendedor de Amendoim” e “Banzo”, ambas composições de Hekel Tavares. Interpretou também canções de Marcelo Tupinambá e Waldemar Henrique.

Sylvinha Mello também teve uma carreira de atriz no cinema brasileiro e participou de três filmes: Estudantes, Grito da Mocidade e Estrela da Eterna Esperança. 
Em 1935, Sylvinha Mello veio a Vitória para a inauguração da Rádio Clube do Espírito Santo, conhecida também como “A Voz de Canaã”, uma das primeiras rádios do Brasil. Ela havia vencido um concurso promovido pela Associação Capixaba de Imprensa entre os ouvintes da rádio e foi a escolhida, obtendo 4412 votos. Venceu nomes como Francisco Alves e Carmem Miranda que obtiveram, respectivamente, 3136 e 2591 votos.

E em 1949, no auge da carreira, Sylvinha Mello foi para os Estados Unidos, a princípio como estudante e depois como funcionária do Consulado Brasileiro em Nova Iorque, emprego conseguido por influência dos relacionamentos políticos do pai. Por lá ficou por dois anos e foi uma das primeiras brasileiras a fazer sucesso na terra do Tio San, onde interpretou músicas de Ary Barroso no Blue Angel, de Nova York e em emissoras de rádio e até de televisão, além de várias boates norte-americanas. 
Sua vida amorosa foi intensa para a época pois, após separar-se de um primeiro casamento, casou-se novamente com um diplomata francês, passando, então, a residir em Paris e mais tarde mudando-se para Joanesburgo, na África do Sul, onde o marido virou embaixador.

Após essa mudança para a África do Sul só encontrei um registro de visita de Sylvinha Mello ao Brasil. Essa viagem aconteceu em 1973, por ocasião do falecimento e enterro de sua mãe, dona Florisbela de Araujo Mello, a dona Belinha, que faleceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, aos 89 anos de idade. 

E a famosa cantora e atriz Sylvinha Mello, nossa ilustre “leopoldinense” nascida em Vitória, infelizmente nunca voltou a Santa Leopoldina, terra de sua família, pois faleceu em Paris, na França, no dia 19 de maio de 1978.

Acredito que o fato de não haver sequer uma linha na história oficial de Santa Leopoldina que cite essa importante artista tenha a ver com a sua precoce saída do Espírito Santo. Mas também acredito que isso não justifica esse total “esquecimento’ da história de Sylvinha Mello, a bonequinha do rádio, uma das maiores cantoras de rádio do Brasil.
 
Adriano Lima Neves

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