COLUNA Adriano Lima Neves

ESPIA SÓ CUMADRE!! PURA CÔCO!!


Por Adriano Lima Neves - Confesso aos queridos leitores de O Leopoldinense, que me honram e me prestigiam
semanalmente acessando e lendo a minha coluna, que já tinha um texto pronto para ser
publicado na data de hoje. Mas, fiquei sabendo de um fato muito positivo para a nossa cidade,
principalmente para o comércio da rua principal. Trata-se da reabertura do tradicional Bar
Leppaus, que na minha infância chamávamos “bar do seu Luciano Leppaus”. A reinauguração
acontecerá amanhã, sábado, dia 22, como uma aposta para a revitalização dos tradicionais
comércios do centro nossa cidade, que sempre ocuparam os antigos imóveis do nosso casario.
Afinal de contas, esses imóveis de apenas um pavimento que existem na nossa rua principal,
foram construídos a partir da segunda metade do século XIX com o intuito de facilitar o
armazenamento de sacas de café, enquanto eram negociadas para exportação pelo nosso Porto
do Cachoeiro, o que dá a eles uma importância histórica relevante.

No caso específico do imóvel onde o Bar Leppaus será reaberto, ele foi construído no
início do século passado, e as iniciais do primeiro proprietário, JSB, ainda podem ser vistas na
fachada. Não tenho certeza, mas já pesquisei em alguns registros antigos tratar-se de João
Sebastião Borges.

Apesar de também ter frequentado durante muitos anos esse estabelecimento
comercial na vida adulta, já tendo como proprietário o amigo Lucianinho Leppaus, filho do “seu Luciano”, as maiores e mais enraizadas lembranças que tenho vem mesmo do tempo de
infância. E é exatamente dessa época que resgatei a expressão usada no título deste texto.

Apenas pouquíssimos amigos de infância, como Pilo e o Silvinho Leppaus sabem o
motivo dessa expressão, e é essa historinha pitoresca que vou narrar aqui para vocês.

Nos anos 1970, enquanto alunos do “ginásio” de Santa Leopoldina, que ainda nem se chamava “Escola Alice Holzmeister”, tínhamos um grupo de colegas que sempre procurava algo para fazer nas tardes após a aula. Em um tempo em que internet e celular eram inimagináveis, e que nem todas as residências possuíam um aparelho de televisão, jogar bola no campinho da rua nova ou na quadra, caçar preá, passarinhos, pescar e tomar banho de rio, ou ainda se aventurar pelas cachoeiras pouco exploradas e acessíveis de Santa Leopoldina, era a nossa grande diversão. Poderia enumerar aqui muitas outras atividades de infância vividas naquela época, desde “encher sacolinha” para o plantio de café, até ajudar os amigos Fábio e Paulo Calot a vender bolos, café e refresco para os operários durante a construção do Hospital Nossa
Senhora da Penha, subindo aquele morro todas as tardes.

E uma dessas divertidas atividades era ajudar o amigo Silvinho Leppaus, colega de classe
no ginásio, a vender os famosos picolés fabricados por seu pai, Luciano Leppaus, feitos numa
antiga máquina, instalada no próprio comércio que será inaugurado amanhã. Em uma dessas
tardes, paramos no antigo ambulatório, que era o “hospital” de Santa Leopoldina naquela
época, e onde hoje funciona a Secretaria Municipal de Agricultura, pois o nosso hospital no
morro do cruzeiro ainda estava sendo construído. E várias pessoas que ali estavam compraram
os famosos picolés de côco vendidos pelo amigo Silvinho Leppaus, e dentre essas pessoas, havia
alguns de descendência pomerana, com forte sotaque quando falavam português.

A expressão “espia só cumadre! Pura côco!” foi dita exatamente por uma dessas pessoas
que saboreavam o picolé de côco vendido pelo amigo Silvinho. O homem soltou essa frase com
tanto entusiasmo, que ao mesmo tempo cuspia o côco ralado que continha no picolé, como
prova de mostrar à “cumadre” que o picolé era realmente feito de côco, realçando a qualidade
do produto.

Essa frase, assim como as brevidades, o pirulito do Zorro, as marias-moles e outras
guloseimas vendidas pelo “Seu Luciano”, além de sua inigualável limonada, ficaram gravadas na
memória de toda essa geração de leopoldinenses, e testemunhar um tradicional comércio como
esse ser revitalizado, nos traz boas lembranças, boas lembranças de uma Santa Leopoldina que,
infelizmente, não existe mais.

Parabenizo aqui a iniciativa da família do amigo Lucianinho Leppaus de propor um
projeto de revitalização do imóvel junto aos incentivos dados pela Secretaria Estadual de
Cultura, bem como ao amigo arquiteto Ademar Pagung Junior, o Juninho, um verdadeiro
fomentador dessas revitalizações ocorridas nos últimos anos em nossa cidade.

Termino o meu texto desejando todo o sucesso nessa nova fase do Bar Leppaus, e que
esse tradicional comércio cresça utilizando todas as ferramentas da modernidade, mas que nos
conceda, pelo menos em alguns pequenos detalhes da nova decoração, a oportunidade de
relembrar os bons tempos de infância vividos em Santa Leopoldina.


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