Adriano Lima Neves - A maioria dos leitores de O Leopoldinense, que considero pessoas sempre bem informadas, sabe que os equipamentos de geração de energia elétrica que foram instalados durante a construção das Usinas Suíça e Rio Bonito, no município de Santa Leopoldina, são de origem alemã.
Mas, além da tradição e alta tecnologia que faz com que os alemães sejam referência nessa área desde há muito tempo, há um fato pitoresco que, se não foi o que definiu o país fornecedor dos equipamentos, teve sua parcela de interferência.
Quando o governador Jones dos Santos Neves decidiu implantar usinas de geração de energia ao longo do trecho encachoeirado do rio Santa Maria da Vitória –diga-se de passagem, foi o que salvou o Espírito Santo de um colapso energético – para cá vieram executivos representantes de países exportadores dessa tecnologia,
interessados em vender os seus equipamentos. A Alemanha chegou a enviar a Santa Leopoldina, em 17 de dezembro de 1953, nada mais nada menos que o seu embaixador no Brasil, Fritz Oellers, cuja comitiva contava também com o seu secretário particular Sr. Heibach e o assessor comercial da Embaixada Alemã no Brasil, Walter Van Gehlen. E o Governador Jones dos Santos Neves e sua comitiva de secretários e assessores também participaram dessa visita, quando conheceram o local de construção das Usinas Hidrelétricas e conversaram sobre a compra dos equipamentos.
Mas, o fato pitoresco que citei no início do texto, se passou com um outro estrangeiro que visitou a nossa cidade com a mesma intenção da comitiva alemã: o britânico Peter Runge, então presidente do Instituto Britânico para o Fomento dasExportações, que aqui esteve no final de dezembro de 1955. Após fazer sua visita ao
canteiro de obras das Usinas Hidrelétricas, o senhor Peter Runge voltou a Vitória, para
reuniões com representantes do governo do estado, para tratar dos interesses do seu
país na venda dos equipamentos ingleses de geração de energia. Inclusive passou o
reveillon na nossa capital, pois tinha marcado o voo de volta ao Rio de Janeiro apenas
no dia 02 de janeiro de 1956.
E, no início da noite de 02 de janeiro de 1956, uma segunda-feira, Peter Runge
dirige-se ao aeroporto Eurico Salles, em Vitória, e embarca em um avião DC-3, prefixo
PCK, que naquela época fazia a linha de Belém até o Rio de Janeiro, com escalas em
praticamente todas as capitais do litoral brasileiro, inclusive Vitória.
E por volta das 21:30h, horário previsto para o DC-3 aterrissar no aeroporto do Galeão, uma chuva torrencial caiu sobre a cidade do Rio de Janeiro, tornando a pista de pouso impraticável. O comandante da aeronave, com 29 passageiros a bordo, era Altino Ribeiro da Silva, que fez uma primeira tentativa de pouso, mas não obteve êxito, uma vez que o avião não conseguiu parar antes do término da pista, tendo que arremeter.
Após sobrevoar por alguns minutos o aeroporto Santos Dumont, na esperança de que a chuva parasse, o comandante Altino partiu para a segunda tentativa de pouso, conseguindo parar somente no final da pista, com parte da aeronave já dentro da baía de Guanabara. Um susto, mas ninguém se machucou, alguns tendo apenas as suas bagagens molhadas pelas águas do mar, inclusive o nosso visitante Peter Runge.
Não posso afirmar que esse susto atrapalhou as negociações do representante inglês para a venda de equipamentos de seu país para o governo do Espírito Santo. O que sei é que Peter Runge nunca mais voltou ao Espírito Santo, muito menos a Santa Leopoldina, e o governo Jones dos Santos Neves acabou adquirindo todos os
equipamentos de geração das Usinas Rio Bonito e Suíça de empresas alemãs.
Pesquisar a vida de Peter Runge não é a minha intenção nesse texto, mas a sua
biografia o mostra de volta ao Brasil em 1969, como Supervisor Técnico da Castrol do
Brasil, vindo a falecer um ano depois, em 1970.
Agora você já sabe que os equipamentos de geração de energia elétrica das Usinas Rio Bonito e Suíça são alemães, mas poderiam ser ingleses, não fosse a derrapada
do avião...
Parabéns!
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