COLUNA Adriano Lima Neves

A VISITA DE DOM PEDRO II A SANTA LEOPOLDINA



Publicado em 19/08/2022 às 07:23
Por Adriano Lima Neves - 
O caro leitor de O Leopoldinense, que semanalmente passa os olhos pelos textos que aqui posto, certamente já ouviu dizer que em 1860 Dom Pedro II visitou a colônia que daria origem à cidade de Santa Leopoldina. E isso é um marco histórico e um orgulho para a nossa cidade, tanto que, por terem ouvido de alguma história oral ou até lido em textos, alguns afirmam que ele pernoitou em nossa cidade, na residência da família Holzmeister, e que a cama em que Sua Majestade dormiu faz parte do atual acervo do Museu do Colono.

Calma lá, algumas dessas informações relacionadas à visita de Dom Pedro II nos obrigam a algumas correções. Não é possível que Sua Majestade tenha pernoitado em nossa cidade, principalmente no imóvel que hoje abriga o Museu do Colono, simplesmente pelo fato de que aquele imóvel só seria construído em 1878, dezoito anos após a visita do Monarca. Na realidade, Dom Pedro II nem dormiu durante a sua visita de cerca de 15 horas à nossa região.


No auge de seus 34 anos de idade, Pedro II e sua comitiva saíram do Porto de Vitória por volta das cinco horas da tarde do dia 28 de janeiro de 1860, e chegaram no Porto do Cachoeiro ao amanhecer do dia 29. Esse tempo maior que gastou na viagem de Vitória a Santa Leopoldina, que normalmente durava 9 horas, se deu em função de baldeações que precisaram ser feitas. No vapor Pirajá, que iniciara a viagem desde o Porto de Vitória, a comitiva de Sua Majestade parou na altura da atual Ilha das Caieiras, e ali Sua Majestade trocou de embarcação, tomando assento em uma galeota, sendo sua comitiva distribuída em outras canoas. Parou ainda em Porto das Pedras, onde degustou um refresco de pitanga, e ali a viagem efetivamente pelo rio Santa Maria iniciou-se, já se aproximando das 8 horas da noite.


Quando a comitiva de Sua Majestade já estava rompendo a “curva da paciência”, a última curva do rio Santa Maria antes de chegar a Santa Leopoldina, atrás da atual sede da Prefeitura Municipal, foi uma festa sem igual. Eram 5 horas da manhã, mas cerca de 300 pessoas já estavam reunidas pelo então diretor da colônia, o tenente João da Silva Nazaré, esperando ansiosas a chegada do Imperador. Ao ouvirem o buzo do canoeiro mestre, dispararam suas espingardas, acenderam girândolas e deram vivas ao Monarca.

Por curiosidade, o primeiro habitante da colônia a beijar a mão do Imperador foi o tenente Nazaré, que também é a origem do nome da Ponte de Nazaré, na entrada da cidade. Vale explicar ainda nesse parágrafo que a Curva da Paciência citada tem esse nome em função da dificuldade dos canoeiros em transpô-la, já cansados de remar desde o Porto de Vitória. Nessa madrugada de 29 de janeiro de 1860, o rio Santa Maria estava bem cheio e com forte correnteza, o que fez sua majestade testemunhar a dificuldade dos canoeiros em transpor aquela última curva do rio. Quem vê o rio Santa Maria hoje tem dificuldade de crer nesse fato...


A pequena rampa da qual Dom Pedro II fala em seu diário, por onde subiu ao chegar à colônia, é hoje a Rua Barão do Rio Branco, entre a Padaria Leopoldinense e a Igreja Batista. Estava toda enfeitada com folhas verdes, e com um arco, armado de folhas de cafeeiro e ramagens de cana e flores campestres. Eram 5 e meia da manhã quando finalmente ele entrou na casa do Diretor da Colônia, o Tenente Nazaré, onde havia um leito preparado “com decência”, destinado ao repouso de Sua Majestade, que não quis se recolher nele, pois perderia muito tempo e não aproveitaria a visita.


Algumas fotografias antigas nos fazem pensar que a casa do Diretor da Colônia é o mesmo imóvel onde morou o popular “Zé Cacho”, um dos irmãos da família Müller, mesmo imóvel onde nasceu o compositor Jair Amorim. Mas, modestamente, discordo dessa versão, e creio que a sede da Diretoria da Colônia era um imóvel que se localizava na altura onde hoje é a agência do Banco do Brasil de Santa Leopoldina. Ali Sua Majestade almoçou por volta das 8 horas da manhã, para não perder tempo em conhecer a colônia. O Tenente Nazaré teve a honra de dividir a mesa com o Imperador e alguns membros de sua comitiva.


A visita do Imperador à colônia de Santa Leopoldina foi tão intensa que ele teve que trocar de cavalo, pois cavalgou ininterruptamente desde a manhã daquele dia, tendo praticamente só parado na casa do colono Wilhelm Wellmez para beber água, enquanto visitava toda a parte alta da colônia, chegando, já por volta das 4 da tarde, na casa do Senhor Amélio Pralon, onde jantou. Amélio era um engenheiro civil que havia sido diretor da colônia em 1858, e houve um pequeno constrangimento por parte do casal
Pralon ao receber tão ilustre e, ao mesmo tempo, tão inesperada visita. Eles haviam chegado da capital naquele mesmo dia, pois foram participar da recepção ao Imperador no Porto de Vitória. Não tiveram tempo de preparar a casa e uma melhor comida para o Imperador. Mas, como um homem simples, o Imperador aceitou o jantar com prazer, apenas anotando em seu diário: “O Pralon preparava-se para receber-me o melhor possível, mas quase tudo faltou, por não se ter prevenido com tempo“.


Pouco depois da 5 da tarde, depois de ter visitado a parte alta da colônia, e após o jantar
improvisado na casa do engenheiro Pralon, Dom Pedro partiu com sua comitiva para o porto de Mangaraí, se despedindo de algumas pessoas que o tinham acompanhado até ali, mas que não poderiam continuar a acompanhá-lo e usufruir da honra de sua presença, em função do cansaço de seus cavalos, já em mau estado para continuar a cavalgar. O caminho feito na volta não contemplou a sede da colônia, que foi contornada, pois utilizaram a região mais montanhosa para atingir o Rio Mangaraí e o seu porto, no local onde deságua no rio Santa Maria, hoje conhecido com Barra de Mangaraí, onde chagaram por volta de 9 horas da noite.


Do porto de Mangarai, a comitiva de Dom Pedro II iniciou a viagem de volta ao porto de Vitória, onde chegou “ao romper da aurora”.


Antes de encerrar este texto, há mais uma informação que precisa ser corrigida: é a que diz que o Dr. Luis Holzmeister serviu como intérprete do Imperador durante a visita a Santa Leopoldina. Há uma pequena confusão aí, pois o Dr. Luiz Holzmeister, promotor de justiça e ex-prefeito de Santa Leopoldina, nem era nascido em 1860. Quem serviu de intérprete foi Aloiz Holzmeister,seu pai. A pequena confusão é porque em alguns textos o nome Aloiz aparece “aportuguesado” como Luiz.


Santa Leopoldina tem muita história...
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2 Comentários

  1. Parabéns pelo texto

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  2. acredito que Dom Pedro II nem precisou de intérprete porque era fluente em Alemão. Essa estorinha dos Holzmeister precisa ser melhor revisada, cruzando informações com a chegada deles no Arquivo Público

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