Por Adriano Lima Neves
A rodovia Afonso Schwab, estrada que liga Santa Leopoldina a Santa Maria de Jetibá, além das
belas paisagens, com suas curvas e serras, também é cheia de história. Essa histórica estrada,
oficialmente chamada de ES-264, já nos causa surpresa por ser bem mais extensa do que a
maioria dos leopoldinenses imagina, pois, a sua extensão total é de cerca de 205 quilômetros.
A sua longa extensão, e principalmente o seu traçado, realmente podem causar surpresas ao
leitor de O Leopoldinense. É que, por ser uma rodovia que corta o nosso estado de modo
transversal, ela se inicia na localidade de Nova Almeida, no litoral do município da Serra, e
percorre o nosso estado até Ibicaba, em Afonso Cláudio, passando pelos municípios de Fundão,
Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá. O interessante é que em Santa Leopoldina ela passa
pelos bairros Vila Nova, Ribeiro Limpo e Caioaba, até ligar o nosso município a Timbuí, em
Fundão. Portanto, os leopodinenses que moram na Rua José Machado Alvarenga, em Santa
Leopoldina, na realidade moram em uma rodovia, a ES 264.
Mas esse não é o motivo principal do texto da minha coluna de hoje. O que quero dividir com
os conterrâneos é o fato de que quando passamos pelo trecho entre Santa Leopoldina e Santa
Maria de Jetibá, a maioria de nós não observa a existência de uma ponte em ruínas. Mas existe
sim uma ponte, e ela está localizada na altura da residência da família Vervloet, no trecho do rio
Santa Maria da Vitória represado pela barragem da Usina Suíça, na localidade de mesmo nome.
Mas, se há poucos que observam a existência de uma ponte ali, um percentual ainda menor se
pergunta ou procura saber o que faz uma ponte naquele local, ligando nada a lugar nenhum.
Primeiramente devo lembrar aos mais jovens que aquele local era o ponto em que a antiga
estrada fazia a travessia do rio Santa Maria da Vitória, desde muito antes da construção da
barragem da Suíça, tendo sido utilizado nos tempos em que por ali cruzavam somente tropas de
burros e mulas, em época anterior à existência de automóveis em nossa região.
E, mesmo sendo construída em madeira, a ponte cumpriu muito bem o seu papel por mais de
um século, até ser substituída por outra feita de concreto, construída mais abaixo, na altura da
entrada da Pousada Suíça, alterando também o trajeto da estrada.
A construção dessa nova
ponte e a alteração do trajeto ocorreram por ocasião do asfaltamento da rodovia ES 264, no
trecho entre Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá.
Mesmo não sendo mais usada e restando apenas suas ruínas, a Ponte do Catão, como é
conhecida essa ponte em ruínas, continua na memória dos moradores mais antigos de Santa
Leopoldina.
Muitos tem uma história para contar sobre alguma aventura vivida nessa ponte tão temida em
épocas de chuvas.
No passado, de tão escorregadia, os passageiros com destino a Santa Maria
de Jetibá, Itarana e Itaguaçu preferiam atravessá-la a pé, a correr o risco de cair no rio Santa
Maria da Vitória junto com os veículos que a desafiavam.
Mesmo com todas essas memórias, a origem do nome dessa ponte nunca foi uma informação
acessível para os moradores e estudantes de Santa Leopoldina, dada a total ausência de
registros oficiais. Por isso, vale o resgate histórico para relembrar que o nome Ponte do Catão
não é referência a nenhum apelido ou adjetivo destinado a alguém. Trata-se de um sobrenome
oficial de uma autoridade da época.
O nome Ponte do Catão é uma homenagem ao ex-presidente da Província do Espírito Santo,
Coronel Olímpio Carneiro Viriato Catão, um advogado mineiro, nascido em 1803 na freguesia de
Itabira do Campo, hoje a cidade de Itabirito, em Minas Gerais.
As minhas pesquisas não encontraram muitos dados sobre a história de vida do Coronel Olímpio
Carneiro Viriato Catão, não sendo conhecida nem a sua data de nascimento. Sabe-se que em 04
de maio de 1826, aos 23 anos de idade, Catão casou-se com Anna Carolina Beatriz Guilhermina
da Rocha, filha do alferes João Carlos da Rocha e de Maria Joaquina de Jesus, em cerimônia
ocorrida na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Montserrat, em Baependi, em Minas Gerais.
A
sua vida estudantil também é pouco conhecida, sabendo-se apenas que era formado em Direito.
Entre os diversos cargos que ocupou ainda em Minas Gerais, Catão foi Secretário e Presidente
da Câmara Municipal de Baependi e deputado provincial de Minas Gerais, eleito para a 4ª
legislatura, entre 1842 e 1843.
Sua curta, porém, marcante carreira política aqui no Espírito Santo iniciou-se quando Catão foi
nomeado Presidente da Província, em 18 de junho de 1857, tendo ficado no cargo apenas até
07 de março de 1858, quando adoeceu.
A sua gestão à frente da Província do Espírito Santo foi tragicamente interrompida por uma
moléstia que o fez sofrer por 75 dias, apesar dos intensos cuidados médicos e da família, vindo
a falecer na madrugada do dia 29 de abril de 1858, em Vitória, aos 55 anos de idade.
O seu velório e sepultamento foi muito concorrido, com presença marcante de autoridades e
do povo em geral, em função do alto cargo que ocupava e do bom trabalho que fazia na
Presidência da Província. Seu corpo foi sepultado na capela da ordem 3ª, na Igreja do Carmo,
em Vitória.
A sua relação com Santa Leopoldina se deve ao fato de que o seu curto governo coincidiu com
a época do início da imigração em nosso município, quando, para facilitar a vinda dos primeiros
imigrantes e fomentar o desenvolvimento da região, foi construída uma ponte sobre o rio Santa
Maria da Vitória, que mais adiante seria batizada com o seu sobrenome.
Essa ponte foi construída estrategicamente em um local em que haviam sido colocados alguns
troncos de árvores para a travessia dos imigrantes que chegaram a Santa Leopoldina em 1857 e
para facilitar o transporte de seus pertences, feito por animais de carga. E foi nesse local que foi
construída a Ponte do Catão, com o intuito de facilitar o acesso dos imigrantes à área escolhida
como sede da colônia, onde hoje é a localidade de Suíça. Sabia-se que aqueles troncos
improvisados não suportariam uma enchente de maior intensidade.
Há pouquíssimos registros sobre a construção dessa obra, mas consta de um ofício nº 08, datado
de 16 de novembro de 1857, uma ordem do Coronel Olímpio Carneiro Viriato Catão para que o
engenheiro Eugenio de La Martiniere se dirigisse a Santa Leopoldina para vistoriar a conclusão
dessa ponte, cuja construção estava a cargo de Francisco de Amorim Machado. E esse é o único
registro que nos leva a concluir que a Ponte do Catão foi inaugurada em 1857.
Em outros raros registros sobre a vida de Olímpio Carneiro Viriato Catão em Minas Gerais, consta
que ele morou por muito tempo na cidade em que se casou, Baependi, como mostram algumas
narrativas de documentos antigos daquela cidade. Nesses documentos é citada a passagem de
Luiz Alves de Lima e Silva, o famoso Duque de Caxias, por aquela região, e informam ainda que
o ilustre militar ficou hospedado na casa do Coronel Olímpio Carneiro Viriato Catão, registro que
é guardado com muita honra pela família e pela população de Baependi.
A casa onde ficou hospedado o Duque de Caxias não existe mais, mas sabe-se que ficava à rua
28 de setembro, conhecida como rua de baixo. Nessa casa, hoje pertencente aos descendentes
de Olímpio Catão, até há alguns anos havia uma bela e confortável cadeira, feita em madeira
escura, de lei, provavelmente jacarandá, tratada pela família Catão e pelos habitantes de
Baependi como a “cadeira de Caxias”, por ter sido usada pelo Patrono do Exército Brasileiro
quando da sua visita e hospedagem em Baependi.
Outros objetos que ainda foram preservados até os dias de hoje para testemunhar a história do
Coronel Olímpio Catão são um jarro e uma bacia de prata que, em virtude de doação feita por
seus descendentes, hoje pertencem à igreja Matriz Nossa Senhora de Montserrat, a mesma em
que ele se casou. Dizem que foi um presente dado à família de Catão pelo Duque de Caxias, em
agradecimento à acolhida que teve naquela casa.
Ainda hoje, em homenagem ao homem que dá nome à nossa Ponte do Catão, há na cidade São
José dos Campos, no estado de São Paulo, uma escola denominada Escola Municipal Olímpio
Carneiro Viriato Catão, inaugurada em 14 de setembro de 1910. O antigo imóvel onde passou a
funcionar a escola era conhecido como mansão dos Baracho, e também é carregado de história,
pois foi propriedade do Dr. Pedro de Paiva Baracho, um rico fazendeiro e Juiz de Direito, que se
tornou famoso na região por ter sido o primeiro a alforriar os seus escravos, mesmo antes da
abolição.
E aqui em Santa Leopoldina, no estado em que o Coronel Olímpio Catão foi Presidente, mesmo
sem se ter a certeza de que seja uma homenagem oficial, foi dado o seu nome a essa pioneira
ponte que, apesar de praticamente extinta, ainda é chamada pela população de Ponte do Catão
até os dias de hoje, provando que a história oral também resiste ao tempo.
E este relato é mais uma tentativa de estimular o leitor de O Leopoldinense, principalmente os
mais jovens, a conhecer melhor a rica história de nossa cidade, com a pretensão de que seja
registrada para a posteridade, e não fique apenas no campo do “ouvi dizer”, como era até então,
a rica história da nossa Ponte do Catão.
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