COLUNA Adriano Lima Neves

Quem foi o Chaves?

A celeridade com que vivemos o nosso dia a dia, cheio de tarefas e compromissos que tem o relógio como inimigo, não nos dá a oportunidade de fazer as mais simples observações do nosso cotidiano, entre elas entender o motivo da origem do nome do lugar em que nascemos e vivemos. É uma pena.

Que bom seria se todos os cidadãos tivessem acesso às informações sobre sua origem, sobre os costumes dos seus antepassados e sobre a história da formação da comunidade onde nasceu e vive. Isso certamente seria um fomentador do amor e do cuidado que teriam com a sua terra e com a sua gente. 


Em um país em que 90% das pessoas não sabe os nomes dos seus bisavós, não nos surpreende que um outro grande percentual também não saiba a origem do nome da sua comunidade. E isso é natural, pois a educação formal não nos possibilita esses conhecimentos e, como não são preservados, se esvaem ao longo do tempo.


Por isso hoje eu propus no título deste texto uma pergunta para os leitores de O Leopoldinense: Quem foi o Chaves?


Não vale dizer que foi o personagem imortalizado pelo ator mexicano Roberto Bolanhos, ou o ex-presidente da Venezuela,  pois a pergunta está relacionada à pequena e tradicional comunidade localizada às margens da histórica rodovia Bernardino Monteiro, formada por gente trabalhadora e amantes de futebol, dentre eles o meu ex-colega de primário no Grupo Escolar Professor Loureiro, lá pelos idos de 1971, o Magno Pitol.


Não conseguiria contar o número de vezes que passei por essa comunidade a caminho da Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa, no tempo em que o ônibus que fazia essa linha ainda era da viação Águia Branca. E em várias outras ocasiões passei até a pé, vindo de Santa Teresa, aventurando-se pela escuridão junto com a nossa turma de alunos de Barracão, sem contar as participações na famosa caminhada do imigrante.


Mas o que quero trazer aos leitores é um pouco de informação sobre a origem do nome dessa comunidade chamada Chaves, e responder, pelo menos em parte, à pergunta formulada no início do texto.


Como sempre, sou obrigado a informar que não existe nenhum registro oficial em Santa Leopoldina que nos dê conta da origem do nome dessa comunidade, mas felizmente ainda existem espalhadas por vários arquivos no Brasil algumas informações importantes sobre o nosso estado, inclusive da nossa cidade de Santa Leopoldina, e que nos possibilitam uma pesquisa mais pormenorizada.


E graças a essas informações, hoje podemos afirmar que a comunidade do Chaves teve o seu nome dado em homenagem ao Conselheiro Imperial e Ministro da Colonização Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves.


Alfredo Chaves, como era mais conhecido, nasceu no Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1844. Era filho de Pedro Rodrigues Fernandes Chaves, o Barão de Quaraí; e de dona Maria José Machado, a Baronesa de Quaraí. Foi o quinto filho de uma família de seis irmãos: Alzira Rodrigues Fernandes Chaves, a Viscondessa de Santa Vitória, Pedro Rodrigues Fernandes Chaves filho, Antônio Rodrigues Fernandes Chaves Neto, Paulino Rodrigues Fernandes Chaves e Maria José Rodrigues Fernandes Chaves, a Baronesa de São Clemente.


Casou-se duas vezes, a primeira com Francisca Cardoso, com quem teve um filho chamado Abelardo Rodrigues Fernandes Chaves; e do segundo casamento, com Alice da Rocha Miranda, nasceram mais dois filhos, Lavínia Rodrigues Fernandes Chaves e Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves Filho


Alfredo Chaves concluiu seus estudos de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de São Paulo, em 1861. Foi desembargador da Relação do Pará, Diretor-Geral da Colonização no último dos gabinetes presididos pelo Duque de Caxias e eleito diversas vezes deputado-geral pelo Rio de Janeiro. Além do Ministério da Marinha, Alfredo Chaves ocupou o Ministério da Guerra.


No Ministério da Marinha, Alfredo Chaves mudou o regulamento das Escolas de Aprendizes-Marinheiros, reorganizando a primeira companhia do Corpo de Imperiais-Marinheiros, regulamentou a praticagem do Rio São Francisco e promoveu melhorias nos arsenais de Marinha. Na sua gestão, foi lançada ao mar a Canhoneira Marajó, construída no Arsenal de Marinha da Corte e, no Arsenal de Marinha da Bahia, foi lançado ao mar o Patacho Caravelas.


Mas, de todo esse currículo de serviços prestados ao Império do Brasil, o que fez o seu nome se transformar em nome de lugares, inclusive a nossa comunidade do Chaves em Santa Leopoldina, foi a sua atuação como Ministro da Colonização, onde atuou firmemente na proteção dos primeiros imigrantes italianos que chegaram ao Brasil, em função dos ataques que sofriam de índios selvagens, que foram um dos maiores empecilhos na formação das novas colônias de imigrantes no Brasil.


A atuação de Alfredo Chaves no sul do Brasil foi decisiva na formação de uma colônia italiana que inicialmente foi batizada com o seu nome, e que hoje é o município de Colombo, no estado do Paraná.  Outra atuação importante na proteção dos imigrantes italianos que chegaram ao sul do Brasil foi na cidade gaúcha de Veranópolis, no Rio Grande do Sul, que até 31 de dezembro de 1943, também era chamada de Alfredo Chaves, em sua homenagem.


E no Espírito Santo, o que fez o então Ministro da Colonização Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves virar nome de cidade foi a sua atuação em 1878. Nessa época, novos imigrantes italianos chegaram ao porto de Benevente, hoje Anchieta, para subir o rio e se fixarem nos vales mais altos, onde sofriam constantes ataques de índios. Nesse mesmo ano, Dom Pedro II enviou Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves para expulsar os índios instalados nas fazendas Togneri e Gururu. E o atual município capixaba de Alfredo Chaves recebeu esse nome em homenagem ao Ministro da Colonização.


E em Santa Leopoldina, apesar de não haver comprovação de que ele tenha visitado essa comunidade, Alfredo Chaves teve o seu nome eternizado devido ao apoio dado aos imigrantes italianos que subiram a serra em direção a Santa Teresa, após desembarcarem no Porto do Cachoeiro. Naquele local onde hoje é a comunidade denominada Chaves, os imigrantes descansavam e se reabasteciam com a água fresca e abundante que sempre existiu ali, reunindo forças para caminhar por mais uma serra a caminho de Santa Teresa, depois de já terem vencido as duas primeiras serras desse caminho. Embora não se tenha registros de ataque indígenas nesse local, o apoio dado pelo Ministro da Colonização foi suficiente para que a localidade ficasse conhecida como Chaves até os dias atuais.


Após ter sofrido com malária e outras doenças que adquiriu com as suas andanças pelo interior selvagem do Brasil, Alfredo Rodrigues Fernandes Chaves faleceu em 16 de maio de 1894, no Rio de Janeiro, sua terra natal, com apenas 50 anos de idade.

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1 Comentários

  1. Mais uma bela historia da nossa amada cidade de Santa Leopoldina, terra de riquezas mil, meu amigo Adriano muito tenho conhecido sobre a historia de nossa cidade através de suas publicações. Grande abraço.

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