COLUNA Adriano Lima Neves

O “Golden State” das montanhas capixabas

A história de Santa Leopoldina é tão rica e pitoresca que nos permite a ousadia de fazer alusões, analogias e até viagens pelos mais variados fatos ocorridos ao longo dos dois últimos séculos. E não somente fatos ocorridos na história do Espírito Santo ou do Brasil, mas na história do mundo.

É o caso da origem de uma comunidade denominada California, localizada nas montanhas de Santa Leopoldina, que apesar de ter a maioria de sua população formada por descendentes de imigrantes europeus, foi batizada com o nome do terceiro maior estado da América do Norte: a Califórnia. 

Entre os briosos moradores dessa comunidade, em sua maioria pequenos produtores rurais, há diversos descendentes de holandeses, luxemburgueses, pomeranos e até prussianos, mas não há, pelo menos sabido por mim, um descendente sequer dos Estados Unidos da América. Então, por que uma comunidade criada na metade do século XIX, em plena selva do interior do Espírito Santo, foi batizada com o nome de um estado americano? 

Para responder ao leitor de O Leopoldinense, primeiro devo ratificar que o nome dessa comunidade é uma alusão ao estado da Califórnia, localizado na costa oeste americana. E, segundo, para que possamos viajar juntos pela história, precisamos conhecer a história da California americana para poder entender os motivos que levaram os desbravadores da época a batizarem essa região de Santa Leopoldina com o nome de California.

A origem desse nome é portuguesa e se refere aos fornos de cal da região de Sesimbra em Portugal, onde nasceu o navegador português João Rodrigues Cabrilho. Na tentativa de encontrar uma passagem do oceano Pacífico para o Atlântico, Cabrillo acabou descobrindo a California americana, em 1542. Como imaginou ser uma ilha, batizou o local com o mesmo de uma praia existente em sua terra natal.

Essa região dos Estados Unidos da América ficou cerca de trezentos anos no mais completo esquecimento, até que, na manhã do dia 24 de janeiro de 1848, um carpinteiro chamado James Wilson Marshall, junto com seus funcionários, percebeu um brilho no leito lamacento do rio dos Americanos, na região de Sierra Nevada, no centro da Califórnia. O riacho estava sendo desviado para a instalação de uma serraria, cuja serra seria movida pela força da água. Quando Marshal olhou para o leito lamacento do rio, viu algo que chamou sua atenção. Havia uma coisa brilhando ali, à luz do sol, era ouro. E o que seria apenas a construção de uma serraria no rancho de John Sutter, se transformou na maior descoberta e na maior corrida em busca de ouro da história até então.

Em pouco tempo, o rancho de John Sutter foi cercado por milhares de caçadores de fortuna, e a California, que até então era terra de ninguém, virou um estado americano, o “Golden State”, ao atingir em menos de dois anos uma população de mais de sessenta mil pessoas, número mínimo para a emancipação naquela época. E nos cinco anos que se seguiram à descoberta do ouro, calcula-se em mais de trezentas mil as pessoas do mundo todo que correram para lá. E nesse período foram retiradas cerca de 370 toneladas de ouro, o que em dinheiro de hoje daria algo em torno de 20 bilhões de dólares.

Essa riqueza atraiu muitos empreendedores para a região, entre eles o alemão Levi Strauss, que junto com o alfaiate Jacob Davis, criou uma calça de tecido grosso com rebites, perfeita para quem encarava o trabalho na mineração do ouro. E assim nascia a calça jeans, em 1853.

E a nossa California leopoldinense? Embora com muito menos registros oficiais do que a história da California americana, hoje podemos afirmar que o motivo dessa região de Santa Leopoldina ter sido batizada com o nome de California é o mesmo do ocorrido na América do Norte: a corrida do ouro. Até então esse fato era uma suposição baseada na história oral, inclusive do meu avô André Bizerra de Lima, um garimpeiro que saiu do interior de Alagoas, ainda no final do século XIX, para desembarcar em Santa Leopoldina, atraído por essa corrida do ouro em nossa região. Apesar de guardadas as devidas proporções, obteve um relativo sucesso nessa aventura, tendo garimpado o suficiente para virar um respeitado comerciante em Santa Leopoldina, pioneiro na instalação do primeiro posto de combustíveis e da primeira linha de ônibus da cidade. Chegou a ser prefeito, pertencendo à junta governativa de 1930.

Durante muitos anos a história da origem do nome da comunidade de California, em Santa Leopoldina, era baseada apenas na história oral. Até que há uns cinco anos, consegui comprovar essa teoria com um documento datado de 03 de outubro de 1853, coincidentemente o mesmo ano da criação da calça jeans lá na Califórnia americana. Trata-se do Decreto nº 1243/53, rubricado pelo Imperador Dom Pedro II, que concedeu ao cidadão  Theodoro Klett a permissão de dois anos para explorar minerais preciosos em terras devolutas existentes às margens e entre os rios do Meio e da Fumaça, abrangendo a região que já era chamada de Califórnia, no atual município de Santa Leopoldina. Essa região à época do decreto ainda pertencia a Vitória, a capital da província do Espírito Santo, uma vez que a colônia de Santa Leopoldina ainda não havia sido criada. 

Essa é a bela história da origem do nome dessa rica comunidade de Santa Leopoldina, formada por gente trabalhadora. Afinal, o nome Califórnia também significa algo que traz ou produz riqueza.


Adriano Lima Neves





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1 Comentários

  1. Confere o relato sobre a nossa califórnia. Ressaltando que: Sebastião Siller, podemos assim dizer, fez fortuna explorando pedras preciosa nesta Califórnia, tendo inclusive deixado como herança uma colonia de terras para cada filho na região do Tirol. Outros como Romário Ferreira e Frederico Lichtenheld não deram tanta sorte. No recanto do Tirol, em terras hoje pertencente a Amintas Flegler ( genro do Frederico, conhecido como vovô Fritz ) ainda existe tuneis de exploração do metal precioso.

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