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O Futsal Leopoldinense

Por Adriano Lima Neves

Hoje O Leopoldinense quer relembrar a geração que conheceu o ginásio de esportes de Santa Leopoldina ainda descoberto, quando era apenas uma quadra cercada por um pequeno alambrado, e com uma arquibancada que mal suportava a vibração da torcida. E que ainda por cima, dava choques elétricos nos torcedores em noites de chuvas, devido às precárias instalações dos refletores.

Nesse tempo, o futsal ainda era conhecido como futebol de salão, e era praticamente outro esporte. As regras eram muito diferentes, assim como a bola, que era pequena, pesada e não quicava. E como não havia proteções atrás dos gols, chutes fortes de jogadores como Adá e João Carlos Barcelos de vez em quando acertavam um transformador elétrico que havia no poste em frente à quadra, ou iam parar às margens do rio Santa Maria.

Não valia marcar gols de dentro da área, o arremesso lateral era feito com as mãos e o goleiro batia o tiro de meta com os pés. Ele também não podia atravessar o meio da quadra quando arremessava a bola com as mãos. E, se tocasse na bola fora da área, era marcada uma infração.


Como não havia cobertura na quadra, as chuvas eram um tormento para a organização dos torneios e jogos amistosos, sendo necessário muitas vezes os jogadores e outros voluntários enxugarem a quadra para que os jogos pudessem acontecer, nos moldes da final da Copa de 1958, quando o gramado do estádio Rasunda teve que ser enxugado para o jogo do Brasil contra a Suécia.

Mesmo assim, com todas essas dificuldades, havia um certo romantismo nesse esporte. Havia paixão, havia emoção, tanto por parte dos jogadores quanto da animada torcida. Quem dessa geração nunca se emocionou e vibrou com os disputados torneios e amistosos promovidos por Hermínio Bráz, o popular “Pinto”, um técnico à moda antiga, que trazia a sua experiência como técnico do Cachoeirano Futebol Clube, um time de futebol de campo, também para a quadra. O estilo era o de um Joel Santana, porém mais rigoroso. 


No futebol de salão, um time inesquecível que sempre travava um duelo de titãs com o time de Santa Leopoldina era o Bourguignon. Nesse time, os destaques ficavam por conta do camisa 5, o Huguinho “bom de bola”, e do goleiro, o João Bafo, hoje um humorista, com quem tive a alegria de reencontrar há pouco tempo.


É uma missão difícil citar os destaques dos jogadores que já representaram a cidade de Santa Leopoldina, pois poderíamos cometer a injustiça de omitir algum nome. Portanto, O Leopoldinense quer relembrar e homenagear todos os grandes jogadores de futebol de salão que já representaram a cidade ao longo desses anos. 

Já na era do futsal, em 2005, diferentemente de receber times de outros municípios para jogar torneios ou amistosos no ginásio municipal local, como nos velhos tempos, o time de Santa Leopoldina participou do seu primeiro campeonato estadual de futsal. Era a Copa Dalponte de Futsal, na categoria Supermasters, onde participavam somente jogadores acima de 42 anos.

E o time, apesar das dificuldades logísticas de ter que jogar em outros municípios do estado, teve uma participação à altura do velho futebol de salão que sempre foi jogado por várias gerações de Santa Leopoldina. E chegou à final, perdendo apenas para o fortíssimo time do Álvares Cabral, que contava com craques ex-profissionais, como o Gabiru, que jogou no grande time do Bradesco Futsal e na Seleção Brasileira. Sem contar com os craques Índio, Ferreira Netto, Adail e outros, que tornaram aquela final impossível para o brioso time representante de Santa Leopoldina.

Quem lembra emocionado desse torneio é o técnico do time à época, o Amilton Gonçalves, que conversou com a equipe de O Leopoldinense:


OL - Como surgiu a ideia de montar um time para representar Santa Leopoldina na Copa Dalponte Supermaster de Futsal 2005?

Amilton Gonçalves: Enquanto fui Secretário Municipal de Esportes em Santa Leopoldina percebi que havia muitos ex-jogadores acima de 40 anos que não tinham a oportunidade de participar de torneios de veteranos, embora tivessem uma bela história no esporte. E como tinha recebido convite do organizador do torneio, o Guilherme Benitez, inscrevi a equipe.

OL - Qual foi o critério de escolha e convocação dos jogadores para montar esse time?

Amilton: Foi fácil. Santa Leopoldina é um celeiro de craques e, usando a minha amizade, convidei alguns jogadores que eu conhecia para uma reunião e eles me apresentaram vários outros que poderiam compor a equipe. E todos toparam participar.

OL - Qual era a sua experiência com futsal até aquele momento, visto que você é oriundo do futebol de campo, tendo sido inclusive campeão estadual pelo Colatina?

Amilton: Futebol é paixão, e apesar das diferenças entre o futsal e o futebol de campo você se adapta. E a experiência do futebol de campo é válida também para o futsal. Além de jogar no campo, assisti e joguei futebol de salão também.

OL - Sei que houve dificuldades de logística e até de elenco para a participação nesse campeonato. Como você explica o fato de ter ido tão longe, chegando ao vice-campeonato?

Amilton: Acho que foi a soma do talento dos jogadores com o compromisso de levar a sério a competição. Apesar das dificuldades de ter que fazer jogos fora de casa, a união do grupo e a vontade de seguir em frente fez com que chegássemos à final.

OL - Quais foram as outras dificuldades encontradas para montar um time e participar de um campeonato de nível estadual?

Amilton: São sempre as mesmas dificuldades. Falta de apoio, inclusive financeiro, que dificultou muito o nosso transporte para os jogos em outras cidades. Além disso, vários jogadores que foram ídolos locais não puderam participar devido à idade e contusões crônicas. Isso dificultou a formação de um elenco maior.

OL - Lembra para os leitores de O Leopoldinense quais foram os jogos mais decisivos e emocionantes daquela competição.

Amilton: Praticamente todos os jogos foram emocionantes, mas o mais decisivo foi contra o João Neiva, que com a nossa vitória conseguimos chegar à final. Perdíamos por 3 x 0 e conseguimos uma virada sensacional para 4 x 3. E ali a ficha caiu e percebemos que éramos uma equipe diferenciada e poderíamos ser campeões. Pena que perdemos a final.

OL - Como foi a participação da torcida na final?

Amilton: Foi maravilhosa, mas não deu muita sorte. A torcida não tinha participado até então de nenhum jogo fora de Santa Leopoldina. Mas na final, contra a forte equipe do Álvares Cabral, enchemos um ônibus de torcedores e fizemos uma festa nas arquibancadas do ginásio deles. Ficamos até surpresos com aquela presença em massa de torcedores nos apoiando. Mas o time do Álvares Cabral era quase imbatível, e ficamos com o vice-campeonato.

OL - Você tem um ou mais jogadores para destacar naquela equipe, ou o coletivo falou mais alto?

Amilton: Claro que vou sempre destacar o coletivo. Mas o Dindinho realmente foi o destaque do time, inclusive tendo marcado um golaço na final contra o Álvares Cabral. Após o término do campeonato, ele recebeu até convite para defender outras equipes.

OL - O que o Futsal de Santa Leopoldina precisa fazer pra voltar a participar de competições estaduais?

Amilton: Precisa valorizar a base. A estrutura hoje é melhor do que na nossa época, mas devemos estimular os novos talentos a participarem de campeonatos fora de Santa Leopoldina, e não só torneios locais.  Isso cria experiência e o intercâmbio é muito saudável para a formação do atleta. Esperamos que o esporte no geral seja visto pelo poder público como uma ferramenta de formação de cidadãos, além de atletas. Como as dotações orçamentárias hoje são um pouco melhores, dá para investir em profissionais para a realização desse trabalho.

E quem também fala um pouco dessa história é o jogador Milton do Carmo, o nosso popular Dindinho. Assista o resumo da final contra o Álvares Cabral e a pequena entrevista com Dindinho:


Outro registro mais recente que também merece destaque foi a participação das equipes de futsal que representaram Santa Leopoldina no Campeonato Estadual de 2011, através do Projeto Esporte e Vida, treinadas pelo professor Cleudo Martins (Dinho).  Participaram desse campeonato as categorias 10-11 até o sub 17, que foi a única categoria a chegar à final.


Grandes equipes do futsal capixaba participaram dessa competição, dentre elas o Álvares Cabral, o Piúma, o Náutico Brasil e o Bom de Bola, contra a qual a equipe de Santa Leopoldina fez a final.

Infelizmente a equipe de Santa Leopoldina perdeu a final na disputa de pênaltis, ficando com o vice-campeonato. Porém, recebeu elogios das comissões técnicas adversárias e até da coordenação do campeonato, o que rendeu convites para amistosos e para futuras participações em novas competições.

Nesses amistosos, a equipe sub 17 de Santa Leopoldina venceu o próprio time do Bom de Bola, para o qual havia perdido na final anterior, além de ter vencido também as equipes de Camburi e do Náutico Brasil.

Bons tempos do futsal leopoldinense...


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