COLUNA Adriano Lima Neves

A histórica rodovia Bernardino Monteiro

Por Adriano Lima Neves

A rodovia Bernardino Monteiro, que liga Santa Leopoldina a Santa Teresa, é bastante citada nos textos históricos como a primeira estrada de rodagem de automóveis a ligar dois municípios capixabas. Realmente ela é o testemunho do início da era rodoviária no Espírito Santo e já é uma velha senhora que completou 101 anos no último dia 12 de maio. O início desse marco da história capixaba, cuja execução ficou a cargo do engenheiro Henrique de Novaes, se deu em 11 de março de 1917, através de uma parceria público privada assinada entre o governo de Bernardino Monteiro e quatro grandes empresas comercias de Santa Leopoldina e Santa Teresa: J. Reisen, Vervloet Irmãos & Cia, Franz Muller & Cia e Ewald & Cia. Mas, mesmo com toda essa importância histórica, nunca recebeu um tratamento digno em relação à sua pavimentação definitiva, seja pelos governos municipais ou estaduais.

A atual obra de recuperação do trecho inicial dessa antiga ligação de Santa Leopoldina com a cidade de Santa Teresa já é um bom começo na direção de uma solução definitiva que transforme essa estrada em uma atração turística, um dos seus maiores potenciais econômicos e a maior vocação dessa região, que já conta com pousadas, cachoeiras e restaurantes. E a recuperação e a pavimentação de toda a estrada são merecedoras de técnicas que preservem a vocação turística do lugar, com a aplicação de materiais diferenciados, e não somente uma mera capa de asfalto em toda a sua extensão. Essa pavimentação diferenciada poderia ser feita em locais pré-definidos, como mirantes e pontos estratégicos, pois há de se pensar, claro, na manutenção das condições normais de tráfego, visto que essa rodovia também atende a produtores rurais dessa região. 

Outras estradas históricas no Brasil que foram preservadas e pavimentadas nesses moldes são atrações turísticas muito visitadas, como é o caso da Estrada da Graciosa, a rodovia PR-410, no Paraná, com 40 km de extensão, que atravessa a Serra do Mar, interligando Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, às charmosas cidades históricas de Antonina e Morretes. A estrada foi feita na antiga rota dos tropeiros, ligando a parte alta da serra ao litoral do estado, atravessando um dos trechos mais preservados de Mata Atlântica do Brasil, marcado pela mata tropical e pelos belos riachos e pequenas quedas d'água que nascem na Serra do Mar. E a região cortada pela rodovia Bernardino Monteiro, entre Santa Leopoldina e Santa Teresa, não é diferente disso.

Suas belezas naturais se mesclam com a importância histórica. O primeiro exemplo é o trecho íngreme inicial da estrada, que liga a localidade do Cocal até o Rio da Prata. Além de sua beleza, tem que ser reconhecido também por seu valor histórico, pois era conhecido como a Serra do Freitas, cujo nome é uma alusão ao bisavô do nosso primeiro governador republicano, Afonso Cláudio de Freitas Rosa. 

Outro fato que dá ainda mais valor histórico a essa rodovia é que em junho de 1918 ela testemunhou o início do transporte coletivo no nosso estado. Era um pequeno ônibus conhecido como Alpino, apelido quase óbvio em função das serras que praticamente escalava. Quando passava pela atual cachoeira Véu de Noiva, os passageiros tinham necessidade de se cobrir para não se molharem com a nuvem de água que se desprendia da volumosa queda d’água. E por isso, a atual cachoeira Véu de Noiva era conhecida como Cascata do Lençol.

Além disso, a rodovia Bernardino Monteiro é palco de outra obra de grande valor histórico para Santa Leopoldina, Santa Teresa e para o Espírito Santo. Trata-se do primeiro viaduto rodoviário do nosso estado, o viaduto Scarpadini. Infelizmente hoje restam apenas alguns vestígios de suas ruínas no meio do mato, mas ainda podem ser observados, logo após a localidade de Cocal, à direita, no início da serra das 9 horas, e é pouquíssimo conhecido pelos seus próprios habitantes. 

Abandonado após a mudança do traçado original da estrada, foi a primeira grande obra do início da construção da estrada, e tem esse nome em homenagem ao Núncio Apostólico Dom Angelo Jacintho Scarpadini, que visitou as obras para dar apoio espiritual aos operários, em 1918.

Com toda essa riqueza natural, histórica e econômica concentrada nesse pequeno trecho de 29 quilômetros, é quase impossível acreditar que a nossa Rodovia Bernardino Monteiro continue esquecida, empoeirada em tempos secos e quase intransitável em época de chuvas. Ela merece mais respeito.


Postar um comentário

1 Comentários

  1. Penso que uma melhoria substancial nesta estrada passa por um estudo criteriosos e desprendido de ambição politica sobre o futuro de Santa Leopoldina.
    Acredito ser o turismo a melhor saída para esta região, porém a própria comunidade não se entende.
    No final de 2002 quando houve a pavimentação da avenida principal, eu, então vereador, fui o ÚNICO a tentar uma discussão sobre o impacto econômico e turístico deste melhoramento para a cidade e quase fui linchado. Santa Leopoldina precisa de um gestor e não de pessoas que pensam em primeiro lugar no seu ganho pessoal ou politico.
    É preciso que se faca um grande debate da sociedade com especialistas para que possamos da um salto econômico que traga qualidade vida que contemple a todos.
    Bom dia

    ResponderExcluir